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JOVANA FONTES
Entrevistador: Igor Neto Paz
Jovana Fontes: About Us
Jovana Fontes: Music Player
Igor Neto Paz: Bom, pra começar a gente vai introduzir o projeto que se chama memória LGBT aqui de Bagé, o propósito desse projeto é garimpar as histórias daqui, e as lutas LGBTS. Eu gostaria que tu começasses falando teu nome, a tua idade se tu trabalhas ou estudas ou fazes os dois e qual tua identidade LGBT?
Jovana Fontes: Eu sou Jovana, tenho 22 anos, eu trabalho como Social Media na Terrasul e faço sistema de informação e sou lésbica.
INP: Qual é a sua relação com a Cidade de Bagé?
JF: É uma relação de não pertencimento, eu não me identifico com nada aqui eu tenho amigos, tenho família, mas a cidade em si é muito separatista em relação a quem eu sou, no sentindo que demarcam muito o meu corpo a minha cor a minha identidade então é uma relação não tão boa assim.
INP: E como é o teu contexto familiar?
JF: É muito tranquilo na verdade, eu tenho uma relação muito boa com os meus pais, com meu irmão também apesar de ele não morar mais em Bagé, mas quando a gente está junto é sempre muito de boas mesmo, não sei se era isso em relação ao contexto.
INP: E a tua infância? como foi para ti esse período?
JF: Na verdade eu não tenho tantas lembranças são mais um flash que vem e vão mas foi muito tranquilo eu lembro que me o que marcou muito assim da minha infância foram as mulheres negras muito presentes, mesmo eu não tendo essa consciência lá atrás, quando eu paro e penso eu lembro muito do contexto de mulheres negras em minha volta como minha mãe, avó, minhas tias e foi muito bom, eu vivi sempre dentro de um contexto de família bem unida sempre com muitas mulheres mais do que homens no sentido mais por parte de mãe mesmo minha mãe, tia e avó, e sempre num contexto muito artístico com a dança, com música, com escolas de samba... então foi uma infância muito boa e que me construiu enquanto ser. assim muito forte.
INP: E como foi o convívio escolar? como foi para ti?
JF: foi tranquilo, eu acho que relação a isso eu tive um pouco de privilegio, eu sempre fui muito estudiosa então eu sempre me destaquei por esse sentido de ser muito estudiosa, de ser muito aplicada em relação aos meus estudos sempre tive isso como uma meta então foi um convívio bem de boas entre aspas, se eu pensar no contexto de muitas crianças negras que passam por diversas coisas... mas foi bem de boa.
INP: E como foi o processo de se descobrir uma mulher negra?
JF: Se pensar na minha idade foi bem tarde mas eu acho que todas as pessoas negras que se descobrem negras é bem tardio... Mas tipo eu me identifiquei Quanto mulher negra com 18 anos então a maior parte da minha vida eu sabia que eu não estava inserida no contexto de ser uma pessoa branca mas ao mesmo tempo eu não tinha acesso à toda essa informação que a gente tem hoje, mas foi assim, foi uma virada de capítulo muito forte na minha vida e ao mesmo tempo que eu me descobri negra eu já descobri minha sexualidade então foi tudo meio junto, mas foi muito marcante mesmo.
INP: Indo nesse ponto que tu falaste como foi se descobrir uma mulher negra e lésbica?
JF: Parece que foi só uma “plim” ,hoje eu paro e eu penso na minha infância e na minha adolescência que era obvio que eu já era só que é tipo” não é não tem nada a ver e também não tinha esse assunto mas é aquele lance da heterossexualidade compulsória sabe então quando eu me descobri assim eu já estava inserida no meio de amigos que são gay de pessoas que são travestis eu tenho uma prima que é travesti então foi muito de boas quando eu então eu sou isso sou lesbica mas teve todo um processo de conhecimento mesmo de ler sobre de ter acesso de ver um filme que tem lésbicas ou bi Mas tu vê que existe sim e é valido então foi um processo muito junto com a com a questão de raça sim que caminha junto até hoje não sei se deu pra entender mas.
INP: E notou alguma mudança no teu contexto familiar e no teu contexto de amigos depois da tua auto aceitação?
JF: No contexto de família assim não tem tanta conversa em relação a isso Eu acho que a partir do momento que eu me descobri eu acho que isso se reflete até na forma com tu fala na forma que tu expressa no conteúdo que tu lê então tipo eu expus mais no meu Facebook na época que usava mas sabe quando tu lê alguma coisa sobre isso compartilha e curte tu comenta Então eu acho que minha família já sabia mesmo eu não tendo falado assim mas não mudou nada em casa assim e com amigos assim tipo eu sempre vivi no meio do vale então foi mais de boa fui muito acolhida na real.
INP: E pra ti como foi se perceber uma pessoa LGBT?
JF: Eu acho que eu reflito sobre isso até hoje assim às vezes é mais impactante como eu me percebo assim mas como o que meu corpo passa pras pessoas entende que tipo elas com elas me demarcarem enquanto uma mulher que não performa toda essa feminilidade que esperam ou essa normatividade mas eu percebo hoje muito acho que tranquila assim essa minha descoberta sim é foi foi muito um processo de tipo ta eu gosto de pessoas então aí depois não mas eu gosto só de mulheres mesmo tipo não sou bi sou lésbica então teve todo esse processo de falar Esse termo com tranquilidade sabe as pessoas têm isso como algo que é negativo assim como a minha negritude então eu venho me conhecendo e performando essa sexualidade até hoje, hoje pra mim é mais tranquilo mas ainda é tipo tem esses impactos com o meio que tu vive de família ,escola não nessa faculdade mas no sentido acadêmico ali e no serviço assim que as vezes te colocam nessa caixa, nesse lugar aqui que tu é isso mas eu me percebo de uma forma muito tranquila hoje.
INP: Quais as figuras que foram essenciais para ti, que tu via como inspiração?
JF: eu acho que tipo assim agora quando eu penso não me vem tantas figuras mas na época assim foi muito contexto de círculo amizade sim uma das maiores referências é tu (entrevistador) sempre foi assim a gente construiu algo muito forte assim algo muito legal mas artistas mesmo que héteros assim mas que levantam essa bandeira tipo a Beyoncé a Rihanna foram muito importantes nesse sentido.
INP: E tu percebe pessoas LGBTS mais velhas?
JF: Eu confesso que antes não assim hoje a gente tem mais acesso em relação a isso, mas no contexto que a gente vive de todo esse meio LGBT até mesmo se tu for numa parada LGBT vai ter mais uma gente de uma faixa etária de até 25 anos talvez do que ver um casal de mulheres que são mais velhos assim eu acho que é bastante falta de representatividade tipo e eu não sei se eu percebo hoje em dia sim mas não é do meu convívio assim não tenho amigos que são mais velhos então não sei se respondi.
INP: Como tu percebe Bagé, a comunidade LGBT de Bagé, existe?
JF: Ela existe mas eu vejo muito como nichos Parece assim sabe não tem tipo a gente eu acho que político de qualquer forma a partir do momento que tu passa isso para a sociedade seja com os estereótipos que eles colocam em cima de uma pessoa que é lésbica ou de um cara que é gay mas assim eu não vejo como uma comunidade de fato unida entende tipo tem vários meios assim que dividem tanto a questão anterior de idade assim se tu vai numa festa dificilmente tu vai ver as pessoas que são LGBTS e que são mais velhas Assim como vai ser muito difícil tu ver pessoas negras dentro dos contextos LGBT também então assim como existe tem várias partes que são demarcadas assim é que é muito claro.
INP: Como se dá às relações de gênero e sexualidade no âmbito de trabalho?
JF: No meu âmbito de trabalho? tá no meu trabalho digamos que formal entre aspas assim que eu tenho mais que é algo que tá mais presente porque eu trabalho lá de segunda a sábado etc. Tipo no meu setor assim é eu tenho toda essa liberdade e eles sabem quem eu sou de fato Eles sabem que eu sou lésbica eles sabem que eu tenho todo esse ativismo da causa negra de feminismo e etc... no setor é isso né mas depois tem todo lance da empresa que é uma coisa que eu ainda sinto o sentindo de não estar pertencendo assim sabe sempre vão te olhar de uma forma diferente eu sou mulher mas sou uma mulher que é diferente eu sou colocada nesse lugar a todo momento a partir do momento que me olham diferente porque eu tenho cabelo curto porque tem dias que eu não vou usar brinco sei lá eu sei que sou uma mulher, que eu sou diferente de todas minha colegas de trabalho mas eles fazem que questão mesmo que de forma não consciente, entende eles só me veem como uma pessoa que é diferente assim então no âmbito de trabalho é todo dia tu ter que se manter ali e ter que ir galgando um pouco de trabalho ter segurança então no meu setor eu dei sorte mesmo assim porque são pessoas que tem uma mente mais a frente tem o debate de raça de gênero então dentro do setor é bem de boas mesmo mas fora é todo esse lance do lugar de não pertencimento também... falo bastante até né
INP: Agora trocando o tópico e indo pra algo mais sexual, quais espaços na cidade tu usa pra explorar tua identidade sexual?
JF: Então não tem muitos na verdade minha sexualidade foi bem tardia assim então acho que hoje em dia é mais em um contexto de círculo de amizades que transitam diversas pessoas sabe então eu acho que nesse meio assim não em um lugar especifico tipo uma festa ou algo assim mas são mas é mais explorada no sentido de pessoas mais próximas talvez, não sei.
INP: Quais são ou foram as estratégias de relacionamento?
JF: Assim eu acho foi bastante presente nas redes sociais assim tipo eu sou um pouco tímida então dificilmente isso partiria de mim de forma a eu to com menina ali e vai acontecer geralmente eu tenho uma conversa antes por rede social tipo rola uma conversa antes de que de fato em um espaço tipo oi vamos, vamos mas tipo geralmente está tipo meio que combinado alguma coisa assim.
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INP: Como você se aproxima das pessoas que você tem interesse?
JF: é muito assim é que hoje em dia é mais difícil sei lá esse lance de proximidade é bem relativo mesmo acho que todas as relações que eu tive elas partiram de redes sociais de conversa pelas redes sociais seja por um por um ponto em comum seja estar em um ambiente que a gente está pela mesma causa tipo movimento negro e esse tipo de coisa então Eu acho que eu demonstro meu interesse a partir disso de pontos em comum, de conversas pelas redes sociais se rola algum tipo de conexão assim.
INP: e quais transições e mudanças no teu corpo tu percebe ou percebeu depois de se identificar como LGBT?
JF: eu fui me desconstruindo em relação a todos os padrões assim que imporão sabe de magreza de cabelo longo e liso de sei lá de vestido e saltos de sutiã umas coisas bem postas então foram várias as mudanças de Então se hoje eu sou uma mulher que tenho certa, quando gosta de se arrumar tu é... eu sempre esqueço essa palavra... vaidosa, se hoje eu sou vaidosa assim é porque eu me identifico com meu corpo assim com meu cabelo curto com meu piercing com a forma que eu me visto mas não necessariamente porque eu quero e estou vaidosa Não é porque eu quero estar bonita pro todo assim mas sim por que é forma como que eu to bem comigo mesmo assim tipo hoje eu vou colocar um vestido por que eu to afim mesmo não porque tipo eu tenho que por esse vestido sabe mas então foram mudanças mais de autoconhecimento de se auto buscar de se auto identificar com o teu corpo mesmo as mudanças que tiveram foram foram eu acho que o mais marcante foi o cabelo mesmo que foi um cabelo longo para o raspado foi uma mudança que para mim foi bem marcante.
INP: E como tu percebe os preconceitos dentro da comunidade LGBT?
JF: É que tipo aqui em Bagé é bastante velado até com esse pessoal que se diz anti racista esse tipo de coisa assim é bem demarcado sabe se tu for numa festa tu vai ver que as meninas negras não são escolhidas ou são a última opção ou então é bem demarcado mesmo tu não vê as meninas negras dentro de uma relação com outras mulheres então tem muita questão tipo tem a questão não só de raça tipo se pra mim enquanto uma mulher que está dentro dos padrões de corpo assim não de magreza mas que tipo as pessoas não me enxergam quanto uma gorda mas imagina o quão difícil é para uma mulher que é negra e gorda, negra gorda e trans então é muito demarcado isso dentro da comunidade LGBT aqui de Bagé
INP: E o afeto como tu percebe ele aqui, ele existe?
JF: No meu, o afeto dentro de Bagé é mais em relação a amizade mesmo afeto de ser um afeto de duas mulheres assim algo mais romântico eu não percebo muito, mas meu afeto é o que eu recebo de afeto são amigos assim.
INP: E sobre os aplicativos Tinder e etc., tu usas?
JF: Assim já usei mas em Bagé eu nunca usei assim a primeira vez que eu lembro assim que estourou esse Tinder eu nem me identificava enquanto uma mulher dentro da comunidade LGBT assim eu lembro que eu instalei acho que em 2014/15 pela primeira vez assim eu fiquei com aquilo instalado no celular durante meia hora se não menos porque tipo mesmo eu não tendo toda essa consciência de raça eu sabia que dentro do contexto do Tinder eu não seria escolhida entende então eu fui vendo ali os caras estavam Ali era tipo esses caras não vão me escolher de forma alguma entendê aí eu já disse não vou sair disso aqui porque não tem nada a ver comigo mas nesse ano eu instalei ele de novo fora de Bagé e já me reconheci como mulher lésbica e enquanto uma mulher negra e cara foi uma experiência tipo de Tinder de Dois a três dias assim que foi bem legal foi interação bem interessante com pessoas de fora e que hoje uma das meninas que deu match é minha namorada então não posso dizer que foi algo perdido assim foi bem legal essa última experiência com o Tinder.
INP: Dentro dessa perspectiva ainda que às vezes são mostradas em aplicativos como tu vê as nomenclaturas ativas, passiva, relativa?
JF: Eu não tenho elas pra mim assim eu não as uso tipo e também não é algo que eu me identifico no sentido de quando tem uma mina que coloca isso tipo tá é escolha dela ok, mas pra mim assim não faz muito sentido eu não uso mesmo assim.
INP: Mudando o tópico um pouco como foi se identificar para os teus amigos?
JF: Então parece que de alguns deles assim eles sabiam que eu me relacionava com mulheres mas eles ainda tipo tinham tem todo o momento parece que não tem essa validação em relação a quem eu sou sabe sempre acham que tipo eu tenho que sentir atraída por um homem que tem que ter um homem ali na relação ou até mesmo no ato do sexo eles pensam sempre na penetração enquanto a ao ato como se tipo pensasse somente no pênis e na vagina só que tipo é muito além disso sabe então tem algumas pessoas que ainda me invisibilizam em relação a minha lesbianidade.
INP: Tu mantiveste os mesmos ciclos círculos sociais?
JF: assim eu mantive mas eles se alteraram bastante assim tipo eu tenho amigos que vem assim comigo a vários anos alguns que eu me afastei mas ainda tenho muito afeto que eu nunca conversei sobre minha sexualidade porque tipo são amigos que já não tem toda essa vivência assim comigo durante um bom tempo a gente troca algumas mensagens e é óbvio que eles sabem que eu exponho isso por meio de redes sociais e sei lá é acho que é algo que é bem visual a mim assim mas tem diversos círculos assim que não se mantiveram.
INP: E sobre esses amigos qual a importância deles na construção da tua identidade?
JF: Eu acho que foi fundamental assim mas hoje eu vejo que tem muito mais filtro meu em relação a algumas coisas assim de não ter aquilo como única saída ou como endeusar sabe eu sei que são e foram foram grandes referências pra forma com que eu me coloco assim na sociedade porque na sua grande maioria são negros assim mas é não sei ligação eu fico pensando em todo o contexto assim São pessoas que tiveram muita influência em quem eu sou hoje mas que também hoje em dia tenho mais um filtro em ter eles como referência tipo são referências diversos âmbitos dentro da escola dentro do contexto acho que musical que é tu(entrevistador) que é uma referência de fato que eu mantenho até hoje mas é são fundamentais na construção de quem eu sou hoje.
INP: sobre as paradas LGBTS tu foi?
JF: eu fui eu acho que eu fui todas tiveram inclusive eu acho que em algumas inclusive em uma delas eu toquei é foram assim eu acho que a primeira que teve foi bem na minha época assim que eu já me entendia enquanto mulher que gosta de outras mulheres mas eu fui em todas.
INP: e tu acha que as paradas agregaram algo, te trouxe algo?
JF: Assim me trouxe um pouco de representatividade em relação a ver que pessoas que estão dentro dessa comunidade que estão ali sabe mas em relação a agregar assim tiveram algumas falas de amigas assim que são negras que estão inseridas no contexto que se torna mais próximo e mais representativo do que de fato toda a parada mas são atos assim que são políticos Independente de quem que toma a frente de quem que fala lá em cima que diversas vezes são só homens brancos.
INP: tu achas que esses eventos eles chegam na periferia?
JF: Eles não chegam na periferia é assim inclusive os que são de periferia que não performam toda essa fase de lacração eles são excluídos são marginalizados Ou são colocados em um lugar de engraçados ou de tipo de eles só fazem isso aí eles dançam muito ou isso e aquilo entende mas não chega na periferia não.
INP: tu chegaste pegar as mudanças das siglas GLS pra LGBT?
JF: eu acho que pouco assim no contexto das primeiras festas que eu fui ainda falavam festa GLS ainda falavam então eu peguei essa transmissão ai de sigla e inclusive se tornar mais inclusiva de fato.
INP: tu achas festas aqui representativas?
JF: Assim na verdade não acho está tipo é legal tu numa festa e tu ter noção que ali tem muita gente gay e lésbica que é bi que é trans e tal mas tem muito disso de ser só um lugar é que tipo é que hoje em dia só uma festa que é voltada pra esse público assim então Sei lá não é não é tão representativa assim e talvez bem excludente tipo eu mesma enquanto uma mulher negra assim eu vou pra festa assim só porque eu quero sair ou porque eu quero ouvir alguma música tipo mas sei lá é sempre um lugar de com muita gente branca assim então eu não vejo tanta representatividade na verdade não vejo nenhuma representatividade nos espaços.
INP: como você se percebe representada no teu contexto?
JF: eu acho que muito por artistas assim. tu diz no contexto de Bagé ou no todo? Eu me vejo pouco representada assim mais por Amigas mesmo negras e que se relacionam com mulheres também, mas no contexto de Bagé eu não me vejo representada.
INP: E partindo de uns anos pra traz que tipo de resistência percebe nas pessoas LGBTS aqui de Bagé?
JF: Assim eu vejo que a não toma muita frente em relação a isso tipo eles se afirmam de tal e tal modo assim eu acho que é muito sei lá muito por se afirmar gay e lésbica e bi e tal mas acho que dificilmente as táticas assim vai através do conhecimento assim de ir atrás de informações ter como um meio interseccional sabe porque é tudo bem tachado e bem dividido então Quando tu vai numa parada LGBT eles podem até ter uma fala que é mais acadêmica ou não mais no sentido que sempre vão pecar principalmente no ponto raça assim sabe falas bem racistas bem transfóbicas então eu não sei tem assim mas eu para mim não me vejo representada pela comunidade de Bagé de fato assim eu vejo muito mais essa galera ir atrás de festa disso e daquilo do que de fato buscar apoiar uma parada LGBT um evento alguma coisa assim sabe.
INP: Voltado pro suporte de AIDS HIV achas que existe um suporte em Bagé?
JF: Assim talvez até exista mas não é falado sabe se tu não vai atrás acho que dificilmente tu vai ter uma informação de postos de saúde médicos e talvez até tipo tu enquanto pessoa LGBT que vai atrás dessa informação que a gente ver talvez as pessoas elas não tenham tanto acho que suporte não sei se essa é a palavra mas talvez não vai se sentir tão acolhido como de fato tu deveria ser sabe.
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INP: E tu acha que a prefeitura aqui da cidade ela se mobiliza para fazer eventos LGBT ou levar mesmo essas informações sobre as doenças sexualmente transmissíveis?
JF: Assim eu não vejo nenhuma talvez tenham frentes, mas eu não conheço assim tipo principalmente no mandato que tem agora sim é algo bem distante ou se eles tão lá é para se promover em cima disso não para de fato ter um apoio na causa então de fato eles não pensam nessa comunidade.
INP: Indo para o contexto mais brasil como tu acha que o Brasil tem em mudado relação a comunidade LGBT?
JF: Tipo eu acho que tem mudado muito na verdade mas justamente pelo acesso à informação de ser mais fácil tu ter acesso ao que tu procurasse tu quer ver um filme LGBT tu não não precisa esperar que a globo passe o que dificilmente não vai passar mas tem muito mais frente tem muito mais facilidade para se incluir dentro de uma bolha que hoje em dia são tudo bolhas de interação de pessoas que tu se identifica que acaba que cria todo uma bolha em relação a isso mas eu acho que esta muito a frente pensando quem eu era a uns 4,6,5 anos atrás assim eu estava recém me descobrindo então teve toda essa dificuldade em relação ao que adolescentes já tem acesso a muito tempo assim e que se aceitam muito mais facilmente por quê tem essa facilidade de informação e de acesso.
INP: Tu achas que Bagé vem junto com essa transformação?
JF: Bagé não vem junto disso parece que Bagé está 500 anos atrás sempre assim sabe é claro que hoje a gente não vai se esconder mais sabe mas nos espaços tu sempre vai ser colocado no espaço de não pertencimento r eu falo isso porque eu já conversei com outras pessoas assim com amigos que são negros e são LGBTS também e tipo parece que a gente está sempre em um espaço que não e nosso apesar de ter nascido aqui.
INP: Qual é a relação com a luta LGBTS?
JF: Assim eu acho que não tem como separar sabe é quem eu sou é algo que é muito presente mas sempre vou partir do ponto de raça então sempre tem essa marca não tem como eu fugir do ser negra quando uma pessoa me olha ela me vai ver que sou negra mas no meio LGBTS assim só vai saber quando eu de fato falar mas que tenham diversas estereótipos tipo ela é de tal forma de tal jeito mas é uma causa que obvio que eu defendo que eu estudo.
INP: Sendo integrante de um movimento social negro como é levantar a bandeira?
JF: Assim é fácil entre aspas assim mas por exemplo sempre vai ser muito contexto do movimento negro então a gente pauta muito raça, gênero então se tu não partir com a tua frente com tá aí quando é que as mulheres negras e lésbicas vão ser inseridas vão ser pauta quando vão falar sobre saúde, sobre solidão das mulheres negras lésbicas sabe é algo que é algo que tu tem que levantar assim por mais que tu esteja dentro do contexto do movimento com pessoas que têm acesso e que tem esse acesso a pautas de gênero, corpos de raça de classe de sexualidade mas tipo tem que estar sempre que pautando sim acho que de fato pra ser uma pauta mesmo o que não é só tu pensar gênero tem que ter uma visão muito mais abrangente pra de fato tu representar todos os seres que são possíveis e hoje é muito mais amplo a diversas formas de ser mulher e a diversas formas de ser homem então essa interseccionalidade ela vem de mulheres negras elas que vem pautando a gente que traz isso de pensar a classe junto com o gênero com a raça com a sexualidade então dentro da comunidade só se for uma comunidade que tenha muito senso assim o que é bem difícil.
INP: Sobre o carnaval como é pra ti o teu corpo no carnaval?
JF: Que pergunta forte tipo eu nasci dentro de um contexto de carnaval a minha vó assim e a minha família eles tiveram escolas e bloco de samba assim mas hoje em dia esse carnaval assim ele é muito mais elitizado no sentido de ter que seguir diversas regras para estar na rua sabe então é algo que eu não vivo tanto hoje em dia quando tu pergunta em relação a corpo é tipo o corpo negro e LGBT é tipo assim eu acho que eu sempre vou ser vista como uma mulher que é diferente das outras mulheres entende mas assim eu não me sinto eu sei que é diversas formas.de me afastar e que me afastam assim mas forma com que eu me vejo hoje mais tranquila então isso não me afeta tanto eu vou voltar nos espaços independente do lance deles quererem ou não mas em cima do meu corpo sempre vai ter o lance de hiper sexualização sabe ainda mais no contexto de carnaval assim que colocam aquele lance de mulata, exportação de globeleza disso e daquilo assim então tem toda a questão aí mas o carnaval é algo que me dá muita força também porque vem todo de um contexto muito forte pra mim de família.
INP: tu achas que a cultura Gaúcha ela afeta tua identidade?
JF: assim eu não me identifico nada assim com a cultura aqui do sul assim então é bastante difícil assim sabe ser mulher negra e ser mulher que também é lésbica dentro do contexto Gaúcho tipo a gente é o que 13% da população talvez até menos então tipo já é negra ainda gosta de mulheres também então tipo sempre vai ter esse peso muito forte mas é uma cultura bastante machista muito racista então é uma cultura que me afasta não me afeta porque hoje eu já sei quem eu sou e eu vou me portar de tal forma sabe mas sempre foi um lance de apagamento e embranquecimento em relação a quem eu sou.
INP: E indo um pouquinho para um outro lado como é ser uma DJ LGBT?
JF: Assim eu pauto muito isso na forma com que eu me expresso nas músicas que eu me proponho a tocar então eu não toco com frequência porque além que de eu não atender alguns estereótipos alguns padrões dentro do ser DJ Eu não me sinto nada vontade em ter que me moldar pra fazer sucesso entre muitas aspas assim então esses ser DJ é mais porque eu realmente gosto de tocar as pessoas através da música mas eu sei que é um lugar bem estranho de estar assim sabe eu não vou ser convidada para festas grandes porque tipo bah além de ser mulher é mulher negra ainda é uma mulher negra que não vai abaixar a cabeça porque vão estar pedindo certo tipo de música já passei por diversos fatos e fatores assim de não respeitar o meu trabalho de não aceitar a forma a as músicas que eu me proponho tocar então não é muito fácil assim é algo que eu gosto mais eu sei que não vai pra frente porque eu não tenho oportunidade porque não me respeitam enquanto mulher negra e uma mulher que quer tocar sobre quem eu sou e sobre quem eu quero representar com as com as músicas que eu quero tocar.
INP: Continuando nesse tópico como se dá a relação Black Duo trazendo tudo isso?
JF: assim é um projeto que que eu gosto muito assim mas eu também sou bastante colocada no lugar de a menina que toca com o tal cara sabe tipo por mais que dei o meu melhor ali como eu sempre faço o reconhecimento não vai ser para mim por mais que eu seja um pouco acho que conhecida em relação a tal o meu serviço é algo muito assim que caminha junto sim ao mesmo tempo que é algo que eu gosto é algo que me apaga um pouco é um pouco complicado na real.
INP: indo também para as mídias e exatas como tu enxerga as mídias hoje em dia?
JF: Assim é que tipo tudo muda e acontece é tudo muito instantâneo nas mídias sociais é muito vai vem tipo acontece agora e amanhã pode não tá acontecendo mas vejo como uma grande potência assim de trabalhar com isso também assim trabalhar com mídia é uma forma assim de que tu vê diversas pessoas que que não podiam falar e hoje falam tem acesso a mais de milhões de seguidores sucesso e que estão gerando esse Black Money muito a frente muito louco assim eu gosto muito de mexer comigo assim sabe de me inserir apesar de que eu me insiro de forma um pouco mais amena no sentido de não estar tão dentro dela não exponho de fato .
INP: E dentro do mundo sistema de informações como é transitar nesse meio?
JF: Cara assim o eu to lutando para me formar assim mas sempre foi ainda e assim uma questão muito forte assim pra mim eu sinto muito diminuída dentro da tecnologia sim é uma faculdade que não era a minha primeira escolha acabou sendo por diversos fatores assim sempre estive no meio de tecnologia e gosto muito ainda tipo bah tem diversas questões de raça assim e de gênero que me colocam sempre no lugar de sei lá que eu não sou capaz assim E aí às vezes eu penso isso também porque eu me sinto muito fora do contexto eu tenho muita trava em relação a diversos assuntos assim é uma área que é totalmente branca que só é válido assim se tu produz algo muito grande assim e não se tu pensa a tecnologia que tem que ser tão grande mas tu não acessa a favela tu não acessas as pessoas que de fato ainda não tem acesso à internet que ainda tenha não tenha acesso a educação então que tecnologia é essa que que é academia quer que eu Produza seu não vou estar acessando quem eu sou e quem eu quero acessar sabe então é uma área ainda que eu tenho muita trava assim e que tipo eu quero pensar muito a tecnologia pros meus assim pra gente que vem da margem mesmo assim. Nova tecnologia e afro empreendedorismo porque a tecnologia ela é produzida por homens por caras de classe média alta então eles estão produzindo tecnologias que são neutras que são apps são mais inteligentes artificiais que tu vai ver que o teu rosto porque é negro não tem esse reconhecimento e quanto uma face eles te reconhece quanto uma sombra então tipo essas equipes elas são tão brancas e tão cheio do padrão mesmo hétero e branco que quando uma pessoa vai fazer o teste de reconhecimento da face ali no caso não é reconhecido por que é negro então cara é um algoritmo ele aprende o que tu ensina tu esta ensinando ele a ser racista, machista então é uma área que as pessoas têm como neutra mas a tecnologia ela tá em tudo então ela não pode ser neutra ela tem que estar sendo tem que estar sendo pensada e construída por quem de fato está na margem se não vai ser sempre uma tecnologia que vai ser racista que vai ser machista que vai excluir por n motivos então essa tecnologia tem diversas frentes de tecnologias que tão vindo ai tipo o PRETA LAB que traz todo um estudo aqui no brasil de mulheres negras e indígenas que estão produzindo e que estão dentro da tecnologia então é uma nova tecnologia que é o que é produzido por pessoas que são diversas como de fato tem que ser e como de fato somos.
INP: E pra ti como é trazer todas essas personalidades juntas assim?
JF: É uma loucura né porque eu fico pensando assim em tudo que eu sou assim e tudo que eu quero ser, eu quero ser um máximo de coisa que eu posso sabe eu acredito muito no aprender então eu gosto de aprender as coisas e gosto muito de aprender essas tecnologias e eu gosto de estar aprendendo sobre música eu gosto de estar aprendendo sobre moda quando eu falo de moda desde o da forma como tu se ve até a forma que tu expressa isso externa isso nas suas roupas então Eu me acho às vezes eu penso assim bah assim sei lá não posso falar isso se não vai soar acho que egocêntrico mas eu to sempre trabalhando isso no sentido de me reconhecer quando uma pessoa que é foda mesmo que eu posso me reconhecer assim porque tem caras que são brancos que não fazem porra nenhuma e estão se denominando diversas coisas então pra mim é muito legal assim ter acho que não Ter mais poder escolher fazer várias coisas e eu gosto mesmo de estar sempre em movimento acho importante.
INP: E pra encerrar, qual a mensagem que tu queres deixar para as futuras gerações?
JF: Eu acho que eles estarão muito a frente assim sabe já vão nascer dentro do contexto muito mais massa então acho que tudo que a gente vem trabalhando assim vem passando todas essas dificuldades pra nossas crianças negras vai ser muito mais fácil mais lá pra frente porque justamente a gente já está pensando nisso seja com a tua pesquisa seja com eu querendo essa coisa de tecnologia ser pensada pra todos assim a mensagem que eu deixo é que sejam quem vocês são de fato procurem sempre se amarem e se conhecerem estarem sempre nesse processo de autoconhecimento sobre quem tu é mesmo e procurar a informação de ler muito então eu acho que a chave mesmo é conhecimento assim e estudem muito. Ubuntu é pra quem tem.
Jovana Fontes: Text
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