Igor Neto Paz: Bom esse é o Projeto Memória LGBT de Bagé procura garimpar toda a história LGBT até o momento então a gente tá conversando com várias pessoas de diversas idades e no final a gente vai transcrever isso e mostrar. Eu gostaria que tu começasses falando o teu nome a sua idade se você trabalha ou estuda?
Thais Sauco: Eu sou Thais tenho 22 anos e eu estudo curso música na Unipampa
INP: Qual a tua relação com a cidade de Bagé?
TS: Na verdade, eu nasci em Aceguá não nasci aqui me criei em Bagé, minha família é de Bagé, a relação com Bagé é próxima e não próxima na verdade eu nunca me senti pertencente a Bagé.
INP: E como é o teu contexto familiar?
TS: Sou criada com minha mãe. Em alguma fase da minha vida eu fui criada com minha vó e meu pai, e aí não deu certo por motivos que ser criada por pai e avó é estranho. Morei muito tempo com minha mãe e agora moro sozinha.
INP: E como foi o teu convívio escolar até este presente momento?
TS: Então eu nunca fui uma pessoa de muitos amigos assim sou das poucas amizades o Ensino Fundamental foi muito difícil foi bem horrível por motivo de nunca me encaixava direito em nada e uma questão muito forte que aconteceu que me marcou muito que na 7º serie a diretora chamou minha vó na época que eu morava com minha vó e ela disse que se eu não mudasse o jeito de me vestir eu teria de sair da escola, que eu estava influenciando as pessoas a serem como eu mas eu nem entendia o que estava acontecendo porque não era nada sabe... não fazia sentido na minha cabeça e ai depois no ensino médio foi mais tranquilo por questão de ser um escola maior também parou um pouco o bullying e ai eu nunca tive muitos amigos de colégio meus amigos nenhum era meu colega ensino médio foi tranquilo
INP: E na faculdade?
TS: Então na faculdade é um processo estranho porque a gente entra e tem amigos, a gente entra, assim— e teve muitos processos eu estou um ano a mais na faculdade do que deveria então... foi na universidade que eu me descobri eu entrei em 2015 em 2016 eu tive meu primeiro relacionamento LGBT e foi muito louco porque na verdade— Eu só acho que isso foi possível— mesmo a pessoa sendo de fora da Universidade— só foi possível por eu estar aqui, mesmo que os meus amigos fossem os mesmos de fora então não foi— eu tenho um melhor amigo que conheço só por causa da universidade— não meus amigos eram os mesmos desde o ensino médio mas acho que essa questão assim— Mas eu nunca fui muito de estar com muitas pessoas então sou uma pessoa muito discreta, não de relacionamento mas de amigos, então sou meia solitária.
INP: E como foi o seu processo de se reconhecer quando LGBT?
TS: Então no ensino médio eu tive minha primeira paixão LGBT só que eu não aceitava, sabe? Meus amigos todos diziam que eu era super apaixonada pela mana e eu negava até a morte mas passou graças a deus e ai eu me descobri de um jeito muito aleatório assim porque uma mana veio falar comigo e ai foi tipo “huumm serase?” Mas eu levei um tempo e depois que eu me descobri eu cometi uns processos de alto e violência assim, sabe? Aquela coisa de não experimentou direito daí eu fui lá buscar macho para ver se era isso mesmo. Foi muito dolorida assim. Eu demorei um tempo talvez uns dois anos até me engatar sabe de me aceitar mesmo que não era um desvio.
INP: Mudou alguma coisa na tua vida depois que tu se reconheceste?
TS: Mudou acho que principalmente as relações. Me distanciei de muita gente que não rola chegar perto. Essas pessoas não chegam perto de mim, eram ”meus amigos,” não são mais porquê— mas assim com relação a felicidade e tal eu acho que não porque sei lá acho que não.
INP: E pra ti como foi se perceber LGBT?
TS: No mínimo questionável sabe porque eu sempre me senti não pertencente. Eu nunca me senti hetero. Mas eu também nunca me senti lésbica então eu sempre fui muito outsider. Ai quando eu descobri que eu sentia atrações por meninas e que isso podia acontecer e era possível foi uma explosão, sabe? Nada fazia sentido, por mais que eu tivesse meios que favorecessem isso, que eu não estava sendo presa por isso. Meus amigos não entendiam, mas eu não me entendia. Foi sempre muito difícil eu me entender me reconhecer na verdade porque eu sou uma mulher que não performa tanto feminilidade mas eu também não sou tão caminhoneira, sabe? Então foi difícil chegar a esse ponto e perceber que tá tudo bem não ser nenhuma dessas coisas. Está tudo bem só ser o que tu é. E aí tentar parar de ficar se encaixando em algum lugar assim é muito violento isso. Eu tentei muitas vezes tanto performar feminilidade, que foi um fracasso, e quanto assim ser muito masculina, e eu não me sinto confortável de nenhum jeito, então só vai sabe. E é muito fluido tem dias que hoje eu quero botar um vestido e tem dias que eu vou sair de boné pra galera passar por mim e ficar “oi?” Afinal tu é ou tu, não é?
INP: Quais foram as figuras que te inspiram?
TS: Eu não sei mesmo não teve uma pessoa que eu me sentisse representada nesse processo, pessoa próxima ou figura Cultural. De uma coisa assim não. Hoje em dia a gente vai seguindo pessoas mas não teve uma pessoa assim que eu olhe e sinta que é o meu ideal. Não o ideal de ser essa pessoa mas de idealizar.
INP: Tu percebes pessoas LGBTS mais velhas?
TS: Poucas e não tão mais velhas, mais ou menos uns 40 anos muito mais velhas não.
INP: E como tu percebe Bagé na questão LGBT?
TS: Eu acho que não é uma comunidade forte, tem muita gente e a galera se mexe, só que a galera se mexe de um jeito que só quando precisa muito. Eu não me relaciono com movimentos diretamente, eu sou dessas também. Tô falando mas, sou dessas que não me mexo, só quando acontece uma coisa muito grave. Mas eu não sei, tem essa coisa assim de não me sentir a vontade, de eu não me sentir parte principalmente pela criação. Eu fui educada numa sociedade onde eu não socializava muito, então as vezes eu prefiro ficar mais na minha assim mas acho que tem um movimento tem uma gurizadinha, eu acho que essa gurizada que vai movimentar o negócio daqui a 3, 4 anos a gente vai ver um cenário muito diferente que a gente tem.
INP: Qual ou quais espaços existem na cidade pra explorar a tua sexualidade?
TS: As festa umas blackouts da vida, tem outras ... assim eu não gosto de festa então é na minha casa “oi vamos assistir um Netflix”.
INP: E como são as suas estratégias para se relacionar?
TS: Bah eu não me relaciono, sabe? é muito difícil chegar me relacionar com uma pessoa porque eu tenho um bloqueio real, oficial, então eu não chego. Se eu tenho atração, a pessoa nunca vai saber que eu existo quanto maior o interesse mais longe eu vou ficar dela. Então hoje eu tô em um relacionamento muito feliz e Tinder e foi isso .
INP: Tu conheces algum lugar algum lugar onde as pessoas possam ter sexo na cidade?
TS: Não.
INP: E como você se aproxima das pessoas que tu tens interesse?
TS: É um longo processo longo mesmo mas assim geralmente eu não me aproximo mas quando eu me aproximo tem que ser ao contrário, sabe? Eu sou muito come pelas beiradas. A pessoa tem que se aproximar porque eu não consigo me aproximar e não consigo chegar e “oi tudo bom tenho interesse.” Eu faço todo uma jogada pra pessoa entender que eu tenho interesse pra ela me chamar e chegar em mim. Eu sou muito tímida... metódica.